O HOMEM QUE NUNCA CRESCIA


Por Lucas Andrade | blog

Pedra Branca, uma cidade pacata no interior do Paraná, guarda um segredo que por décadas alimentou cochichos, lendas e medo. Entre praças silenciosas e ruas de paralelepípedo, viveu — ou ainda vive — um homem que jamais cresceu. Não é figura de linguagem. Não é metáfora. É literal.

Tudo começou em 1995, quando um menino surgiu do nada, no coreto da cidade. Estava limpo, bem vestido e não falava seu nome. Disse apenas que “veio de longe”. Tinha aproximadamente 12 anos. Dona Norina, uma aposentada conhecida por ajudar andarilhos, levou-o para casa e passou a chamá-lo de Elias.

Nos anos seguintes, estranhamente, Elias não mudava. Continuava com o mesmo rosto, mesma voz suave e mesma altura: 1,40m. Aos 25 anos vivendo ali, ainda aparentava 12. As crianças da cidade cresciam e Elias não. Ele brincava com gerações diferentes de meninos e meninas. Muitos estranhavam, outros riam. Mas os mais atentos sentiam medo.

Havia algo nos olhos dele. Um brilho antigo. Como se já tivesse visto o fim do mundo.

No ano 2000, uma professora tentou levá-lo a um médico em Curitiba. Elias desapareceu por três semanas. Quando voltou, trazia uma cicatriz circular na nuca e disse, enigmático: “Há lugares onde os vivos não devem entrar.”

Em 2010, fui até lá com minha equipe de reportagem. Conseguimos falar com ele na sacristia da igreja, onde ajudava o padre a limpar castiçais. Ao me aproximar, senti um frio estranho, embora fosse verão. Elias me olhou com um sorriso calmo demais. “A verdade não está pronta pra ser contada, senhor repórter”, disse ele.

Foi a única frase que me concedeu.

O SUMIÇO

No mês passado, em 2025, Elias desapareceu novamente. Mas desta vez, deixou uma carta. Manuscrita com uma caligrafia impecável, antiga. Abaixo, o conteúdo:

“Aos que buscam respostas:
Não pertenço a este tempo. Fui criado em 1824, num laboratório oculto sob os Alpes. Um experimento. Um erro. A promessa era vencer o tempo. O custo foi perder a alma.
Eu envelheço por dentro, mas o corpo não segue. Cada década é um peso. Sou um viajante que nunca chegou, um relógio sem ponteiros.
Estou partindo. Há um portal que se abre a cada 200 anos. Talvez eu consiga atravessar desta vez. Se falhar, ficarei preso para sempre.
Não me procurem. Algumas verdades não querem ser vistas.”

Anexado à carta, uma foto em sépia. Mostrava um laboratório vitoriano, com homens de jaleco, instrumentos rudimentares e ao centro, o mesmo menino: Elias. A data na borda: 1851.

A INVESTIGAÇÃO

Consultei especialistas em fotografia. A imagem era autêntica. Visitei arquivos de famílias austríacas — nenhuma pista. Busquei registros militares de laboratórios secretos do século XIX. Nada. Como se Elias fosse um espectro fora da linha do tempo.

Alguns moradores acreditam que ele ainda anda pela cidade — que Elias aparece nas sombras, observa, mas não se deixa encontrar. Outros juram que ouviram sua voz na floresta próxima ao cemitério, recitando algo em latim.

O padre local, agora idoso, se recusa a comentar. Quando mencionei o nome de Elias, ele apenas fez o sinal da cruz e murmurou: “Ele não era deste mundo.”

CONCLUSÃO

Se Elias foi um experimento, um viajante do tempo ou uma entidade, nunca saberemos com certeza. Mas uma coisa é certa: Pedra Branca jamais esquecerá o menino que não envelhecia.

E você, leitor…
Quando olhar para uma criança que parece não se encaixar, observe com atenção. Pode ser só imaginação. Ou pode ser Elias, esperando o próximo portal.

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